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Correlação entre IA e ações de adaptação é prioridade para indústria brasileira diante de mudanças climáticas

  


*Por João Santos, especialista de soluções do SiDi, Instituto de Tecnologia

Os efeitos da mudança do clima estão se tornando cada vez mais frequentes, nos últimos meses foram observados eventos com impactos severos no Rio Grande do Sul, incêndios em Los Angeles, Valência (na Espanha) e em cidades da Indonésia, Afeganistão e Quênia. Ao mesmo tempo, áreas de vegetação - como Brasil, China, Chile e países na região da África Subsaariana - sofrem com as secas extremas e queimadas. Os impactos preocupam a indústria, afetada de diferentes formas. Apenas no primeiro semestre de 2024, os desastres climáticos somaram US$120 bilhões de perdas em todo o mundo, segundo levantamento da seguradora Munich Re. O altíssimo custo desses eventos levanta o debate: como estimular a mitigação e a adaptação ‘dentro de casa’ para reduzir esse impacto?

A Inteligência Artificial surge como uma tecnologia promissora na resposta para essa questão. O setor de seguros e resseguros é um ótimo indicativo, afinal o interesse do segmento em proteção de ativos acaba puxando uma tendência em todo mercado. E as empresas de seguros de propriedades e de acidentes já trabalham com IA como ferramenta para avaliar ameaças climáticas extremas, afinal a análise preditiva para antecipar impactos de eventos extremos surge como uma maneira eficaz de refletir sobre adaptação, da porta para dentro e no mundo em geral. 

Atualmente, a utilização de dados de satélites, radares em determinadas regiões, são potenciais ferramentas para a indústria, mas coletar imagens não é suficiente. É preciso sensoriamento in loco e, principalmente, conseguir fazer correlações mais precisas com os dados, para proteger a companhia de eventos extremos.  Não basta saber que existe uma área com queimadas, é fundamental entender a dinâmica do fenômeno e criar modelos para prever quais locais serão afetados e de que forma. Ou seja, é crucial coletar informações para personalizar soluções e ter um centro de tomada de decisões para se proteger das catástrofes, pensar em ações para mitigação e adaptação, ou os ativos continuam expostos.  Sem a correlação e o entendimento das dinâmicas locais ou regionais, a IA não basta. 

Há também outra frente a ser desenvolvida para que a proteção seja efetiva. Modelos climáticos são complexos e demandam infraestrutura robusta para interpretar os dados, é necessário que computadores de alto desempenho sejam envolvidos nessa equação. Porém a infraestrutura necessária não é simples para uma empresa brasileira implantar em seu quintal, o Governo precisa ajudar a indústria do país de alguma forma, ou apoiar empresas privadas na construção de modelagem climáticas, ou construir centros para suportar nosso mercado. Atualmente, o Brasil conta com uma condição privilegiada para abrigar centros de supercomputação e data centers, uma vez que a matriz elétrica tem 84,5% da sua geração baseada em fontes renováveis, segundo a ANEEL (Matriz elétrica brasileira alcança 200 GW — Agência Nacional de Energia Elétrica). Tal fato possibilita não apenas a criação de uma infraestrutura nacional de IA, mas posiciona o Brasil como uma referência em infraestrutura verde no cenário internacional. 

Qualificação profissional é tão urgente quanto implementação de IA

Apesar dos avanços tecnológicos, ainda falta uma peça fundamental para a correlação: a mão de obra. Esse é um problema crônico globalmente, sendo mais acentuado no nosso país. Formamos ótimos meteorologistas, cientistas da computação e pesquisadores, mas precisamos de um profissional híbrido, que pense na tomada de decisão, transporte humanitário, reconstrução, adaptação, mitigação, ou seja, todos aspectos de ação durante e após o evento climático e como a tecnologia pode gerar soluções para estes temas. Precisamos formar profissionais que entendam de tecnologia, mudanças climáticas e construam argumentos para engajamento da alta gestão, demonstrando como é importante agir para proteção, inclusive, dos próprios ativos.

Existem, sem dúvidas, vários desafios enfrentados pela indústria onde estes novos profissionais podem atuar. A área de logística de empresas que têm indisponibilidade de rotas em eventos extremos como a queimada, ou no caso da indústria extrativista, que é sensível, pois a mudança do clima ataca a matéria prima, afetando diretamente a produção, são exemplos deste campo. Através dos conhecimentos de ações de mitigação e adaptação, e o uso da Inteligência Artificial, esta mão de obra qualificada pode entregar sistemas que trazem informações preventivas e preditivas, cenários mais precisos para tomada de decisão e um olhar estratégico da operação. Embora o caminho seja complexo, ele se mostra viável com infraestrutura e recursos humanos preparados para desenvolver as soluções do futuro. O Brasil precisa fomentar a implantação de IA, para sensoriamento e interpretação, e ter profissionais capazes de tomar decisões que superem os eventos climáticos no ato e evoluam ações de mitigação para que toda a indústria e sociedade revertam, juntos, a mudança do clima. 

Os efeitos da mudança do clima são devastadores e é urgente acelerar o debate sobre a importância da correlação entre Inteligência Artificial e ações de adaptação e mitigação. Pela importância da agenda, todos atores envolvidos precisam se unir para criar um ecossistema que permita não apenas a implementação da IA, mas também a formação de uma nova geração de especialistas preparados para levar os desafios climáticos para a mesa de decisões da indústria. Governo e setor privado ainda atuam com a cultura do reparo, que será cada vez mais complexo e caro. O olhar preditivo é preponderante diante do cenário atual.

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